Do livro às histórias, das histórias às palavras, à estética e às artes

Ana Maria Pereira
ana.mfpp@mail.telepac.pt

Filomena Prada
mena-pires@sapo.pt
Agrupamento Vertical de Escolas de Macedo de Cavaleiros


Resumo
A comunicação que apresentámos na plenária regional do programa do ensino de português, intitulada “Do livro às histórias, das histórias às palavras, à estética e às artes”, dividiu-se em três momentos: o poema “desabafo” da autoria de Francisco Lopes constituiu-se como o 1.º momento, possibilitando-nos reflectir sobre pedagogias transmissivas que prevaleceram durante décadas, coarctando a imaginação, a fantasia, a invenção e a criatividade; o segundo, refutou o primeiro porque se privilegiou a pedagogia da participação, da descoberta e da conquista. Incidiu, este momento, sobre duas experiências de acção didáctico-pedagógica ao nível do ensino do Português, com uma turma do 1.º ano do Ensino Básico, sob a orientação da formadora Dra. Alexandra Subtil; no terceiro e último momento apresentámos, num diaporama, uma sinopse do trabalho desenvolvido durante a formação com essa mesma turma.



Desenvolvimento
Actividade 1 – O Bicharoco que era oco
O Bicharoco que era oco, de Ana Ventura & Carla Pott, é um álbum narrativo com particularidades de jogo. Descreve a história de um bicho que um dia “despertou” e descobriu que ainda não era nada. Ao longo da história ele interroga-se sobre o que é que vai ser. Enquanto pondera várias possibilidades, explica formas e cores para o seu novo corpo, até se vir a metamorfosear…

Objectivos
Desenvolver a compreensão oral; Desenvolver a comunicação oral; Fomentar a criatividade, a fantasia, a invenção e a imaginação; Estimular o desenvolvimento da sensibilidade estética; Construir versos com a sonoridade de rima.


Procedimentos
Leitura da história de uma forma expressiva, pausada e interactiva, sem que a criança tivesse qualquer tipo de contacto com o livro. As crianças à medida que ouviram a história descodificaram mensagens, fizeram inferências, realizaram as suas descobertas e registaram graficamente as configurações do que entendiam, da sua interpretação. Através da representação gráfica a criança sonhou, imaginou, fantasiou, visualizou, exprimiu e transformou ideias, resolveu situações… ou seja realizou acções criativas que nos revelaram as suas idiossincrasias.Os resultados finais adquiriram contornos substancialmente diferentes mediante as competências e o conhecimento enciclopédico de cada uma das crianças.
Nas figuras seguintes apresentam-se dois exemplos do trabalho final.










De seguida apresentou-se o livro e todos os resultados, em termos de representação icónico-gráfica, foram comparados com a ilustração final da autora da obra.












Houve também a manipulação do computador por parte da criança para que esta recontasse a história através da projecção de imagens.




Foram ainda apresentados insectos embalsamados. O entusiasmo evidenciado pelas crianças foi visível, manifestando uma enorme vontade de observar de perto as caixas com os “bichorocos” que iam passando pelas suas carteiras. Ficaram curiosas, admiradas e satisfeitas, querendo descobrir ao pormenor cada animal. Neste sentido, notámos que a predisposição das crianças para a aula foi intensa e todas se interrogavam sobre os insectos, facto fundamental que se revelou essencial, uma vez que se deu voz às crianças.



Participaram ainda activamente na leitura e representação gráfica de imagens que rimavam com oco. Finalmente construíram o seguinte poema utilizando essas rimas.





Actividade 2







Considerando que o “ELMER” é um dos melhores livros de literatura para a infância, escrito por autores estrangeiros, a sua exploração resultou, para nós, numa aula dinâmica e pensada mediante a faixa etária das crianças.




Objectivos
Desenvolver a compreensão e a comunicação orais; Fomentar a criatividade, a fantasia, a invenção e a imaginação; Desenvolver a compreensão de símbolos e sistemas de sinais visuais; Desenvolver competências de leitura e de escrita.

Procedimentos
Visualização de uma imagem (representação gráfica de um elefante) por uma criança sem que os restantes elementos do grupo/turma tivessem qualquer tipo de contacto com a mesma.Descrição oral da imagem para que as outras crianças pudessem realizar a representação mental e, consequentemente, chegassem à descoberta do animal.



Distribuição de um envelope contendo uma peça de um puzzle gigante (Elmer) pelas crianças. Montagem do puzzle, através de jogos de associação de cores e de ordenação sequencial de letras que se encontravam em cada um dos envelopes.
As crianças construíram o puzzle e depois de todas as peças colocadas visualizaram a figura final e escreveram palavras, no caderno, que iniciassem pela letra que lhes foi sorteada. Cada criança seleccionou uma das palavras que tinha escrito e escreveu-a no quadro com a intencionalidade de se estabelecerem relações com o elefante do puzzle.

De seguida apresentou-se o livro que continha a história do elefante do puzzle… Fez-se a leitura do texto (do qual se apresenta um excerto) de forma expressiva; mostrando em simultâneo algumas imagens.








Colocaram-se questões relacionadas com a história reflectindo as “diferenças” entre a imagem inicial, descrita e observada, e o animal da história. Relacionaram-se os acontecimentos da história com experiências do dia-a-dia e debateram-se, em grande grupo, as respostas dadas. Fez-se, posteriormente, o reconto oral da história.

E porque um elefante pode ser um ELMER preenchido com cores ou outra coisa qualquer… as crianças preencheram os quadrados com letras e levaram para casa com a intencionalidade de contarem a história aos pais e pintarem o seu ELMER, conjuntamente.


Finalmente, em folhas de papel A3, as crianças representaram graficamente o seu “auto-retrato diferente” a partir da expressão “se eu fosse diferente seria…”. Na apresentação feita pelas crianças, dos trabalhos realizados, fomos invadidas pela estranha sensação de que o maravilhoso, o absurdo ou nonsense estava presente na componente icónica e nas palavras proferidas que poderiam ser ingredientes de uma nova história.


Considerações Finais
Nas intervenções que temos vindo a realizar percebemos que das histórias do passado… ao presente com histórias reais, em mundos possíveis, revisitámos, um pouco, o que se constituiu para estas crianças num trabalho com histórias, palavras, estética e arte. Isto, porque cada livro tem uma história para nos contar e porque em cada história moram as palavras que se observam, também elas, simples ou inseridas nas ilustrações, criando uma simbiose icónico-textual.
Concluímos referindo que levar uma criança à expressão oral clara e adequada é ajudá-la a dar os primeiros passos nesse processo. Portanto, enquanto professoras, julgamos que a melhor gratificação que podemos ter é ver no sorriso de cada criança a alegria sincera da motivação e no seu olhar a confiança de estar a dar passos firmes e incisivos na evolução do processo de construção de competências literácicas.

Deixamos outro registo, para quem quiser explorar a história do ELMER em inglês...


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