SESSÃO TEMÁTICA Nº11


“O ensino da expressão escrita: a entrada na aprendizagem formal da escrita e a sua articulação com a aprendizagem da leitura. O processo de escrita e as suas diferentes componentes.”

Após um enquadramento teórico, com base na brochura sobre a escrita e em outras obras, pedimos aos nossos formandos que, em grupo, efectuassem algumas produções escritas.

LIPOGRAMA: sugerimos um lipograma ou “letra proibida” que «consiste em escrever um texto, omitindo uma ou várias letras do alfabeto.» (ME/DGEBS,1993:97). Este tipo de trabalho «desencadeia a produção de texto (quer de raiz, quer por transformação de um texto pré-
-existente); provoca a mobilização de vocabulário/expressões alternativas para um dado contexto – mecanismo essencial ao aperfeiçoamento de escrita.» (ME/DGEBS, 1993:99)
Lipograma em “i”:
“A Ana observava os garotos que jogavam à bola, num espaço sem nada.
Choravam amargamente. A bola rolou, rebolou, saltou e rebentou. Evaporou-se no espaço.
- E agora?
- Quem nos pode salvar? Quem nos compra uma bola?
- O teu avô?
- Não pode ser, já não bate na bola.
A Ana, com cara de madre Teresa de Calcutá, avança e acalma.
- Lavem a cara, peguem nas «chuteras» de montanha e vamos fazer uma escalada, ao Monte Everest.
Catrapus! Rolaram pelos penhascos e perderam o que tanto, tanto, tanto amavam…
- Oh belas «chuteras» o que perdestes?”

(Ana , Anunciação, Filomena, Olímpia)
Lipograma em “a”O urso de peluche é fofo, bonito
e querido dos bebés
que mexem nos pés
e dormem em berços coloridos,
com bonecos preferidos.
De noite, protegem o seu sono
e extinguem, em segredo,
todo o medo…
(Cecília, Helena, Natividade)

LETRA IMPOSTA: «consiste em escrever um texto, utilizando o maior número possível de vezes, uma ou mais letras ou, um mesmo fonema ainda que com diferentes grafias.» «Consistindo a LETRA IMPOSTA na operação inversa do LIPOGRAMA, as respectivas variantes de didiculdade máxima coincidem – impor uma única vogal é suprimir as quatro restantes.» ME/DGEBS(1993:100)
- Letra imposta “p”
"O pato da pata passeava no pátio do Pedro pintor que pintava a parede e a padeira da porta do patamar da padaria. O pão do Paulo, padeiro de profissão, pulava na prateleira perto da porta da padeira Paulo na, professora do primeiro período do puto paranóico, que pulava de parapeito da parte posterior do postigo, provocando perplexidade à população portuguesa do Porto."
(Alfredo, Augusta, Rogério e Teodoro)
- Letra imposta “f”
"Fernando Francisco Ferreira faz facas finas de ferro fundido em Faro, ficando facilmente fiáveis, fora o facalhão feito em Famalicão. A filha Fátima, na fogueira, faz farófias fofas na frigideira, de figos frescos, das figueiras de França.
Finalmente, fizeram uma festa na floresta.
Fónix, foi fixe!"

(Anabela, Deolinda, Fernando)

BARALHAR HISTÓRIAS: A partir de uma sugestão (que modificámos) de Clara Ferrão (2007:99), demos tiras de papel aos diferentes grupos; numa tira escreviam o espaço, noutra o tempo, noutra as personagens, noutra uma situação de conflito, noutra a complicação e noutra, a resolução do conflito. Baralhámos as tiras e foram redistribuídas pelos grupos (baralhar histórias); cada grupo, num tempo limitado, produziu a sua história.
Grupo 1:
O que se escreveu nas tiras de papel:
“de manhã”
“castelo”
“coexistência de significado”
“a bola furou-se”
“destruição total “
“o vento”
Texto produzido
"Certo dia, de manhã, o vento silvava por entre as ameias do castelo. Entretanto, o ruído do vento confundia-se com as risadas das crianças que disputavam a bola. Na confusão e, com um pontapé mais forte, a bola furou-se, gerando a destruição total da brincadeira.
Nisto aparece um amigo a convidá-los para uma festa de anos, gerando uma situação de coexistência de significados"
(Alfredo, Augusta, Rogério e Teodoro)

Grupo 2:
O que se escreveu nas tiras de papel:
“Pinóquio”
“O tempo está chuvoso, triste e desagradável.”
“Num espaço vazio.”
“Conflito entre o dever/prazer.”
“Não há jogo.”
“Vamos comprar outra bola.”
Texto produzido
«Pinóquio Repórter
"Era um dia chuvoso, triste e desagradável, num espaço vazio, o Pinóquio observava movimentos.
Os movimentos eram lentos e despertam conflitos entre o dever e o prazer.
O dever de não fazer nada e o prazer do deslumbramento do ritmo do tempo que termina com gritos de crianças.
A bola saltou, rolou, rebolou e nunca mais se viu.
Não há jogo. A tristeza apoderou-se das crianças.
Eis que chega alguém e as consola.
- Vamos comprar outra bola"

(Ana, Anunciação, Filomena, Olímpia)

Grupo 3:
O que se escreveu nas tiras de papel:
“Pinóquio”
“Casa”
“noite/Verão”
“deu um tiro no pé e fugiu para a Alemanha”
“o nariz cresce desmesuradamente”
“A princesa está presa no castelo. O príncipe tem de salvá-la. Vai escalar a torre e resgatar a princesa.”
Texto produzido:
"Pinóquio chegou a casa numa bela noite de Verão.
Preocupado Gepetto perguntou-lhe o motivo da sua demora e Pinóquio começou a contar com entusiasmo:
Ouvi os gritos da princesa Jacqueline que estava presa na torre do castelo e tive que ir avisar o Príncipe que andava do outro lado da floresta a caçar.
Gepetto olhou para o Pinóquio e sorriu quando viu o seu nariz a crescer.
- Ah! Sim? E como conseguiu o Príncipe salvar a princesa?- inquiriu com ironia.
- Tivemos que ir buscar uma escada a um pombal.
- A um pombal?
Pinóquio atrapalhado respondeu enquanto o seu nariz crescia desmesuradamente.
- Sim, sim o Príncipe precisa de muitas pombas para treinar o tiro ao alvo.
- E conseguiu o Príncipe salvar a princesa?
- Não, deu um tiro num pé e fugiu para a Alemanha."
(Cecília, Helena, Natividade)

Grupo 4:
O que se escreveu nas tiras de papel:
"tinha chovido mais e o príncipe caiu e partiu as duas pernas"
"morena, olhos de cobra, cara de rufia e não só"
"no Outono"
"no jardim"
"movimento estático"
"a verdade é reposta e o nariz encolhe"
Texto produzido:
"Era uma vez uma jovem morena, olhos de cobra e cara de rufia, olhar selvagem, ar provocante.
Numa manhã de Outono ele viu-a do jardim da mansão onde morava. A chuva caía, deixando o chão escorregadio. O príncipe, andando, olhou-a fascinado, sem se aperceber que saía do empedrado da alameda. Os pés escorregaram-lhe na relva, caiu e, oh!, desgraça, partiu as duas pernas.
Recolheu ao hospital e ficou estático durante algum tempo.
Quando lhe perguntaram como tudo tinha acontecido, ele desculpou-se, dizendo que alguém o empurrou. De imediato, o nariz começou a crescer. Era o sinal da mentira. Seria o renascer do Pinóquio? Envergonhado, repôs a verdade, tendo o nariz voltado ao normal.
A partir daí, decidiu não voltar a mentir."

(Anabela, Deolinda, Fernando)

FORMADORA: Alexandra Subtil

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